Economia de guerra: O projeto de paz na Europa está ameaçado?

Não existe uma definição oficial para “economia de guerra”, mas a ideia geral é que um país mobiliza seus recursos, sua capacidade de produção e sua força de trabalho para apoiar a preparação e produção militar, tanto antes quanto durante um conflito.

A mudança mais clara na economia é quando a indústria começa a produzir menos bens de consumo e foca em itens como armas, munições e outros equipamentos militares.

Além do armamento convencional, as armas modernas exigem investimentos em tecnologia e serviços digitais, como softwares, análise de dados, sistemas de satélite e internet confiável. Para gerenciar isso tudo, os governos tendem a aumentar o controle sobre as indústrias necessárias e a alocação de recursos, priorizando itens que vão ajudar nos esforços bélicos. Assim, coisas como combustível e alimentos podem ser racionados para que os militares recebam a prioridade.

Quem se beneficia de uma economia de guerra?

Na visão de especialistas, numa verdadeira economia de guerra, todos os setores da sociedade se voltam para defender a pátria. Essa mudança, por sua vez, traz um aumento significativo nos gastos do governo, impactando na inflação, nos impostos e na diminuição da assistência social.

Empresas que trabalham com produtos militares, tecnologia digital e área da saúde geralmente surfa nessa onda e se saem muito bem. A transição para uma economia de guerra pode até ser um empurrãozinho para inovações científicas e tecnológicas, como novos sistemas de comunicação e motores de jatos, que acabam influenciando outras indústrias também.

Como é a transição para uma economia de guerra?

Economia de guerra

Mudar de uma economia civil para uma economia de guerra pode ser um processo mais lento ou acelerado, conforme a situação. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a Alemanha teve um tempo a mais para se preparar, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido precisaram correr para se ajustar.

Atualmente, por exemplo, a Rússia e a Ucrânia estão em uma situação semelhante. A Rússia teve um aumento considerável nos investimentos militares e na produção de bens bélicos, ao mesmo tempo que impôs controles financeiros para evitar que dinheiro saísse do país. Isso resultou em inflação e aumento dos gastos públicos para manter a economia civil funcionando.

A Ucrânia, que está sob ataque, enfrenta situações ainda mais difíceis e teve que investir muito mais em seu esforço de guerra. Hoje, cerca de 58% do orçamento do país vai para despesas militares. E, assim como a Rússia, a Ucrânia teve que mobilizar pessoas para apoiar os esforços bélicos, tirando trabalhadores qualificados do mercado civil. Muitas fábricas tiveram que se adaptar para produzir armas e munições.

Quais outros países estão em modo de economia de guerra?

Além disso, há outros países que também se encontram quase em uma economia de guerra devido a conflitos militares, como Myanmar, Sudão e Yemen. As convulsões em Israel, Síria, Etiópia e Eritreia estão provocando uma grande desestabilização econômica, já que seus governos estão focados em esforços militares.

No caso de Israel, a defesa se tornou prioridade, com o governo aumentando seus gastos e trazendo mais pessoas para o setor militar, o que retira trabalhadores do mercado civil. Para arcar com esses custos, o governo elevou impostos sobre consumo, serviços e propriedades.

A União Europeia está pronta para se rearmar

Recentemente, a União Europeia tem se movimentado diante da diminuição do apoio dos Estados Unidos à Ucrânia e à segurança geral na Europa. Esse cenário, depois de anos de suporte norte-americano, está causando inquietação nas garantias de segurança transatlânticas.

Os membros da OTAN, dos quais 23 fazem parte da União Europeia, já estavam com dificuldades para investir 2% do PIB em defesa. Agora, esse percentual já não é visto como suficiente.

Em março, a presidenta da Comissão Europeia anunciou um plano de defesa de €800 bilhões, chamado “ReArm Europe”, que visa fortalecer as capacidades militares da UE. Isso inclui uma proposta de €150 bilhões em empréstimos para os membros da UE, além de permitir que os países gastem mais, o que pode chegar a mais €650 bilhões em despesas militares nos próximos anos.

A Alemanha pronta para aumentar investimentos militares

A Alemanha, por sua vez, também está se preparando para novos investimentos e aprovou novas regras orçamentárias que facilitam o aumento de gastos em defesa. Essa mudança é tão significativa que pode impactar a política de segurança no continente e vai exigir ajustes na constituição do país.

Priorizar os recursos financeiros será um passo crucial para a Alemanha e para a Europa como um todo, além de melhorar o acesso à energia e coordenar as capacidades nacionais. A ideia é que compras conjuntas e pesquisas em conjunto possam reduzir custos. No nível político, embora haja bastante conversa sobre aumentar as capacidades militares da Europa, estamos ainda nos estágios iniciais. Porém, a Europa tem uma base forte, com recursos financeiros e capacidade de produção.

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