Por muito tempo, a Alemanha foi considerada o motor econômico da Europa, sendo a maior economia da União Europeia e a terceira do mundo. Mas, nos últimos tempos, o país tem enfrentado dificuldades, com dois anos consecutivos de retração econômica. O futuro chancelar precisa agir rápido, especialmente com as eleições federais marcadas para 23 de fevereiro.
“Quando a Alemanha espirra, a Europa pega uma gripe”. Esta frase mostra como a Alemanha influencia não só a própria economia, mas também a de toda a União Europeia. Se a economia alemã desacelera, isso pode afetar todos os países do bloco.
Para entender o que está rolando na Alemanha, é crucial saber que eles têm enfrentado uma série de desafios políticos e estruturais.
Incerteza Política
As pesquisas mostram que o cenário político está bem dividido para as eleições de 23 de fevereiro. O partido da centro-direita, a União Democrata Cristã (CDU), está liderando com 30% das intenções de voto, seguido pelo partido de extrema-direita,
Alternativa para a Alemanha (AfD), com 22%. Já o Partido Social-Democrata (SPD), os Verdes e outros partidos estão atrás. Mesmo com o AfD crescendo, parece que nenhum dos partidos tradicionais vai querer fazer coalizão com eles, o que pode tornar as negociações pós-eleitorais bem complicadas.
Uma possibilidade é a “coalizão Quênia”, formada por CDU/CSU, SPD e os Verdes, devido às cores dos partidos. Outra opção é a “coalizão Alemanha”, com CDU/CSU, SPD e o FDP.
Não parece que a atual coalizão “semaáforo”, formada por SPD, os Verdes e o FDP, vai continuar, o que fortalece as expectativas de que Friedrich Merz, líder da CDU, assuma como chanceler.
Merz, que voltou à política após Angela Merkel deixar o cargo, tem adotado posições conservadoras, especialmente em relação à imigração e à economia, e está promovendo uma transição energética mais pragmática.
Econômica Estagnada e Problemas Estruturais
A economia alemã está em uma fase complicada, com previsão de crescimento de apenas 0,7% para 2025 – o que é super baixo em comparação com outros países da UE. Desde 2017, o crescimento foi só 1,6%, enquanto a média da UE foi de 9,5%.
Os problemas incluem altos custos de energia, investimentos públicos baixos e uma dependência excessiva das exportações, criando um ciclo de estagnação. O modelo de exportação da Alemanha, sem investimentos no mercado interno, não está ajudando em nada a preparar o país para futuros desafios.
A indústria, que já foi o grande orgulho da Alemanha, está perdendo força. Grande parte das empresas está levando a produção para fora, buscando custos mais baixos e menos burocracia.
A produção industrial caiu significativamente, com as fábricas operando a 90% dos níveis de 2015. Em contrapartida, a produção na Polônia, por exemplo, subiu para 152% do que era em 2015, mostrando uma mudança das capacidades de produção para a Europa Central e Oriental.
A população envelhecendo também é um grande desafio, já que isso reduz a mão de obra e aumenta os custos. Mesmo com o índice de desemprego baixo, espera-se que haja cortes de empregos em indústrias. As antigas reformas no mercado de trabalho ajudaram a segurar a barra, mas hoje é preciso investir em políticas inovadoras para manter a competitividade.
Além disso, os altos preços de energia estão pesando na competitividade econômica. O investimento público é baixo, com apenas 2,8% do PIB – bem abaixo da média da UE. A burocracia e o medo de acabar acumulando dívidas também dificultam grandes investimentos.
Enquanto isso, países da Europa Central e Oriental, como Polônia, Hungria e República Tcheca, estão se mostrando competidores mais dinâmicos, atraindo cada vez mais investimentos estrangeiros. A Espanha também está se destacando mais que a Alemanha em termos de investimento e crescimento.
Medo de Risco e Concorrência Chinesa
A burocracia alemã, que costumava ser um exemplo de ordem, agora está enferrujando a criatividade e a inovação. Processos longos e complicados para aprovações desestimulam novos negócios. Além disso, a cultura cautelosa é uma barreira para as iniciativas mais ousadas.
Muitas empresas preferem fazer melhorias pequenas, com medo de falhar em projetos maiores, como na área de veículos elétricos. Esse jeito de pensar atrapalha a Alemanha em setores que estão mudando rapidamente, como tecnologia e energia verde, onde é preciso ter agilidade e aceitar riscos. Para mudar isso, é preciso simplificar processos e incentivar a inovação.
A competição dos fabricantes chineses de carros elétricos é uma ameaça significativa. Com um grande apoio do governo, as empresas chinesas estão superando as montadoras tradicionais alemãs em tecnologia e escalabilidade.
Marcas como BYD e NIO estão chegando aos mercados europeus com modelos de EV acessíveis, enquanto gigantes alemãs como Volkswagen e BMW enfrentam altos custos de produção e desafios na adoção de veículos elétricos.
Além disso, a produção de carros na Alemanha caiu mais de 25% entre 2017 e 2023, o que é preocupante, já que o setor é fundamental para as exportações do país. Essa pressão pode acabar afetando até mesmo os parceiros da UE que dependem da economia alemã.
O Caminho a Seguir
Os desafios que o próximo chanceler da Alemanha enfrentará são enormes, envolvendo questões econômicas, políticas e estruturais. Para reverter a estagnação econômica, vai ser preciso agir rápido.
É preciso equilibrar a dependência tradicional do país nas exportações industriais com um aumento no investimento público. E a dinâmica das coalizões será fundamental, já que a falta de progresso nos últimos anos é evidente.
Do ponto de vista econômico, a Alemanha precisa repensar sua política de energia. Os altos preços têm impactado tanto as empresas quanto as famílias, e é fundamental encontrar uma estratégia industrial que mantenha a competitividade do setor automotivo. Além disso, desburocratizar e facilitar processos é urgentíssimo para dar mais agilidade à economia alemã.
Se não houver reformas, a economia da Alemanha pode piorar, afetando outros países da UE também. Uma Alemanha fraca pode gerar desconfiança nos mercados europeus e alimentar movimentos anti-Europa.
Por outro lado, uma liderança ágil e reformas transformadoras podem não só revitalizar a economia da Alemanha, mas também reforçar seu papel como uma líder estável na Europa. Para o próximo chanceler, a responsabilidade é enorme: garantir um futuro próspero ou ver o país afundar economicamente.